quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Diário de filmagem - quarto dia


A equipe e seu Elias (camisa amarela) em frente à casa de Chico Mendes


Depois de entregar o filme ao ETNODOC, volto a lembrar das filmagens neste diário. 
Após a longa entrevista com seu Justino, em Plácido de Castro, partimos para Xapuri, onde uma surpresa nos esperava. Luiz Targino de Oliveira, soldado da borracha com quem tinha feito contato anteriormente, tinha se ausentado da cidade para tratamento de saúde em Brasiléia, na fronteira com a Bolívia. A suspeita era de hanseníase e seu estado era delicado, como constataríamos mais tarde. Isso exigiu que encontrássemos outro personagem que, para nossa sorte, localizamos rapidamente com a ajuda da Dercy Teles, atual presidente do Sindicato dos Trabalhadores Ruraris de Xapuri, cargo que foi de Chico Mendes. Tucano (apelido de um dos ajudantes do sindicato) nos levou até seu Elias. 
Elias Dias de Souza, 77 anos, nascido nos seringais do Acre, era amigo de Chico Mendes desde o seringal Cachoeira, nos anos 1970. A figura de Chico Mendes, aliás, continua a pairar como uma referência  em Xapuri, cidade conhecida mundialmente depois de seu assassinato, mesmo que pouca coisa tenha mudado por ali desde dezembro de 1988.
Seu Elias foi um achado, pois tem a mesma trajetória de trabalho na borracha (como Luiz Tragino) e  presenciou a decadadência dos seringais, tendo se envolvido em seguida com a fundação do sindicato. Uma de suas frases marcou minha memória e está no filme: "Até hoje tenho honra e se pudesse ainda cortava seringa". 
Com seu Elias tiramos uma foto em frente à casa de Chico Mendes, que permanecia fechada sem explicação, enquanto uma enorme árvore cortada por motossera, por conta de uma construção do vizinho, parecia dizer que a luta continua. Ainda temos muito o que aprender sobre a questão ecológica na Amazônia e parece que um dos principais problemas é fazer com que todos entendam que luta ecológica inclui também o homem, um animal nem sempre racional. Outro ponto é pensar na conservação ecológica ao mesmo tempo que se estrutura uma alternativa econômica para que os remanescentes do trabalho extrativista possam ganhar a vida. Mas isso já é outra história e, quem sabe, outro filme.

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