terça-feira, 4 de maio de 2010

De volta à cidade ruidosa


De volta ao Rio de Janeiro desde domingo, os ruídos me assaltam. Assaltam mesmo, porque tiram minha paz: buzinas, celulares, pessoas que passam na rua discutindo o futuro sem prestar atenção no presente. Definitivamente conectado às mazelas urbanas, o Acre ainda guarda espaço para algum silêncio, mesmo que duramente cultivado. Inevitável lembrar dos versos de Drummond no poema "Explicação": "No elevador penso na roça,/ na roça penso no elevador."
Em meu cotidiano pouco previsível, começo a desenhar a agenda das filmagens em Rio Branco no final de junho. Estou me sentindo um pouco como um soldado da borracha chegado recentemente do Nordeste diante da escuridão do seringal e do rugido das onças: curioso e atento. É preciso seguir em frente e fazer o sonho caber no orçamento, que precisa de mais apoio.
Aliás, os soldados da borracha de carne e osso são um bom exemplo para isso: passaram 44 anos sem nenhum benefício de aposentadoria e não desanimaram. Ainda esta semana, um grupo deles planeja ir à Brasília para pedir reajuste da aposentadoria e 13º salário, que não têm até hoje. Segue uma foto de uma estátua de um migrante no mercado central de Rio Branco, diante da passarela para o Segundo Distrito. É uma espécie de síntese dessa passagem da tradição para o moderno e desse momento em que os soldados, sim, continuam a marchar.

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