De abril até hoje, 07 de setembro de 2012, muitos eventos marcaram a trajetória do filme "Soldados da Borracha", e também do próprio grupo de seringueiros que trabalhou na Amazônia no segundo ciclo da borracha.
Em abril, houve a audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado do Pará, em que foi discutida de maneira ampla a situação pretérita e atual desses trabalhadores da floresta, por iniciativa do defensor público Carlos Eduardo Barros da Silva. Em maio, a discussão sobre a PEC 556/ 2002 ganhou espaço em uma audiência no Congresso Nacional, por inciativa do Sindicato dos Soldados da Borracha de Rondônia, para discutir, principalmente, a reivindicação de equiparação entre benefícios dos soldados da borracha e a aposentadoria dos ex-combatentes . Estive presente com o filme nas duas ocasiões e foram tantas tarefas depois disso que não entrei em detalhes por este blog.
Na última semana, apresentei o filme no Teatro Nacional, em Brasília, no dia 3 de setembro, com debate do documentarista Vladimir Carvalho e do defensor Carlos Eduardo, e, no dia seguinte, 4 de setembro, acompanhei a solenidade de entronização dos soldados da borracha como heróis da pátria. Para ser breve, é a primeira ocasião em que pessoas vivas chegam a esse posto simbólico que, por mais formal e burocrático que possa parecer, explicita a importância desses migrantes que lutaram em prol dos aliados, fazendo borracha na floresta.
No mesmo dia, um pouco antes da cerimônia, o ministro Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria- Geral da Presidência da República, recebeu um grupo de soldados da borracha do Acre e de Rondônia no Palácio do Planalto, na qual narraram suas aventuras na floresta e solicitaram a atenção da presidente da República Dilma Rousseff. O ministro se mostrou sensibilizado com o encontro e prometeu conversar com a presidente sobre uma maneira de recompensar os soldados da borracha, talvez na forma de indenização por todos os anos de abandono. Entreguei a ele um DVD do filme com a certeza de que tudo isso ainda é pouco, mas é um avanço fenomenal para os soldados da borracha, que passaram mais de quatro décadas sem a menor atenção federal e que só a partir da Constituição de 1988 obtiveram o direito de receber o benefício de dois salários-mínimos mensais.
O ministro Gilberto Carvalho (de gravata) na recepção aos soldados da borracha |
No meio de toda essa agitação, constatei ao final da cerimônia no Panteão da Pátria, ao conversar com alguns soldados da borracha, que eles não deslumbraram com a visita o Planalto ou mesmo com a entrada de seus nomes no Panteão, mantendo a dignidade de quem sabe que sua condição primeira é a de trabalhador brasileiro e de que não ganharam nenhum centavo de reconhecimento por esse novo estatuto. Mas, volto a mencionar antes que alguém diga que está falando uma novidade: são as primeiras personalidades vivas a entrarem nesse rol (essa última solenidade incluiu vinte novos nomes e os soldados foram incluídos como grupo). A conferir, nos próximos meses, se a movimentação política não foi apenas uma miragem para fazer um afago aos soldados da borracha.