sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Soldados da borracha: heróis da pátria, mas sem todas as honrarias

De abril até hoje, 07 de setembro de 2012, muitos eventos marcaram a trajetória do filme "Soldados da Borracha", e também do próprio grupo de seringueiros que trabalhou na Amazônia no segundo ciclo da borracha. 
Em abril, houve a audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado do Pará, em que foi discutida de maneira ampla a situação pretérita e atual desses trabalhadores da floresta, por iniciativa do defensor público Carlos Eduardo Barros da Silva. Em maio, a discussão sobre a PEC 556/ 2002 ganhou espaço em uma audiência no Congresso Nacional, por inciativa do Sindicato dos Soldados da Borracha de Rondônia, para discutir, principalmente, a reivindicação de equiparação entre benefícios dos soldados da borracha e a aposentadoria dos ex-combatentes . Estive presente com o filme nas duas ocasiões e foram tantas tarefas depois disso que não entrei em detalhes por este blog. 
Na última semana, apresentei o filme no Teatro Nacional, em Brasília, no dia 3 de setembro, com debate do documentarista Vladimir Carvalho e do defensor Carlos Eduardo, e, no dia seguinte, 4 de setembro, acompanhei a solenidade de entronização dos soldados da borracha como heróis da pátria. Para ser breve, é a primeira ocasião em que pessoas vivas chegam a esse posto simbólico que, por mais formal e burocrático que possa parecer, explicita a importância desses migrantes que lutaram em prol dos aliados, fazendo borracha na floresta. 
No mesmo dia, um pouco antes da cerimônia, o ministro Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria- Geral da Presidência da República, recebeu um grupo de soldados da borracha do Acre e de Rondônia no Palácio do Planalto, na qual narraram suas aventuras na floresta e solicitaram a atenção da presidente da República Dilma Rousseff. O ministro se mostrou sensibilizado com o encontro e prometeu conversar com a presidente sobre uma maneira de recompensar os soldados da borracha, talvez na forma de indenização por todos os anos de abandono. Entreguei a ele um DVD do filme com a certeza de que tudo isso ainda é pouco, mas é um avanço fenomenal para os soldados da borracha, que passaram mais de quatro décadas sem a menor atenção federal e que só a partir da Constituição de 1988 obtiveram o direito de receber o benefício de dois salários-mínimos mensais. 
O ministro Gilberto Carvalho (de gravata) na recepção aos soldados da borracha
No meio de toda essa agitação, constatei ao final da cerimônia no Panteão da Pátria, ao conversar com alguns soldados da borracha, que eles não deslumbraram com a visita o Planalto ou mesmo com a entrada de seus nomes no Panteão, mantendo a dignidade de quem sabe que sua condição primeira é a de trabalhador brasileiro e de que não ganharam nenhum centavo de reconhecimento por esse novo estatuto. Mas, volto a mencionar antes que alguém diga que está falando uma novidade: são as primeiras personalidades vivas a entrarem nesse rol (essa última solenidade incluiu vinte novos nomes e os soldados foram incluídos como grupo). A conferir, nos próximos meses, se a movimentação política não foi apenas uma miragem para fazer um afago aos soldados da borracha.